O “complexo mineiro do Braçal” era constituído não só pelas Minas do Braçal, mas também pelas Minas da Malhada e pelas Minas do Coval da Mó.
Séc. 1 a.C / séc. 1 d.C.
Exploração pelos romanos de prata e galena de chumbo. Ainda são identificáveis três galerias romanas. Numa delas, no séc. 19, ainda existiam os barrotes de madeira de carvalho que faziam a segurança da galeria, bem como alguns objectos (trança de chicote, balde de madeira e pedaço de candeia de barro).
No séc. 20 encontrou-se uma taça de terra sigillata, a “porcelana” dos romanos, bem como duas lucernas que foi possível datar de 5 a.C./75 d.C.
As lucernas eram utilizadas para iluminação no interior das minas; cheias de azeite conseguiam iluminar cerca de 8 horas.
Séc. 19
A 1ª concessão mineira em Portugal foi a da mina do Braçal, dada por alvará de 6 de Agosto de 1836 a José Bernardo Michellis.
Em 1840 a concessão passa para o alemão Diedrick Mathias Fewerheerd, comerciante do Porto, cuja concessão perpétua viria a ser dada a 2 de Maio de 1868.
Entretanto foram descobertas as Minas da Malhada (1850) e as Minas do Coval da Mó (1856).
Em 1862, a população invade as Minas, causando bastante destruição, em protesto pela poluição que destruiu as culturas dos campos em redor.
O Governo, como indemnização, concede ao alemão a construção e exploração de uma via férrea, de sistema americano, entre o Braçal e a Foz, junto ao rio Vouga. O que favorecia o escoamento do minério que ali era embarcado e descia o rio Vouga até ao Atlântico. Por cada metro de via férrea o Governo pagou 3 mil réis. A exploração deste caminho de ferro só teve inicio a Março de 1867 e pelo prazo de 20 anos. Foi renovada a concessão e a linha funcionou até 1918.
Em 1863 é construída a fundição com o mesmo modelo usado nas fundições prussianas de Stolberg.
Com a morte do alemão é transmitida a concessão, em 17 de Março de 1877, para a Sociedade Administração das Minas do Braçal, formada pela sua viúva e herdeiros.
A laboração conhece um ritmo cada vez menor, mesmo depois de em 1882 a concessão ter sido dada à Companhia Mineira e Metalúrgica do Braçal, que se formara.
Séc. 20
Em 1898, uma companhia belga, a Minas e Metalurgia, SARL, inicia um novo dinamismo com a criação da Companhia Mineira e Metalúrgica do Braçal. Na Malhada abriram-se galerias que atingiam o Coval da Mó, do outro lado da serra, numa extensão de cerca 2km. No Braçal foi instalada uma nova Fundição de minério. Atingiu o seu pico em 1912 e seguintes, empregando cerca de 350 pessoas.
Após estes anos áureos, entra em declínio sendo praticamente nula a partir de 1926 e extingue-se em 1933.
A partir desta data cessa a exploração mineira, apesar de se ter constituído em 1939 a Sociedade Industrial e Agrícola do Braçal e em 1938 a Sociedade de Madeiras do Braçal, Lda se ter instalado na Malhada.
Será em 1942, com a aquisição pela Companhia Previdente, de Lisboa, que de novo se volta à laboração e as minas conhecem um novo período áureo. É criada a sociedade Companhia Industrial e Agrícola do Braçal, que fica com a concessão, e recrutado um jovem director técnico, o Eng. João Vidal, que será decisivo na estratégia delineada para o novo período de exploração no Braçal, na Malhada e no Coval da Mó.
O poço mestre do Braçal atingiu os 130m, o da Malhada 400m e o do Coval da Mó 180m de profundidade. Em 1955 atingiu-se o pico da exploração, extraindo-se mais de 2000 toneladas de minério que se transformaram em cerca de 900 toneladas de barras de chumbo.
Em 1959 cessa definitivamente a exploração, lançando no desemprego centenas de trabalhadores, para quais se conseguiu uma licença especial de desemprego e foram para França e Alemanha trabalhar nas minas e na beterraba.
Em 1972, depois de decretado o abandono pelo Estado, foi vendida toda a maquinaria para sucata e em 1974 todo o edificado e terrenos florestais são vendidos à Companhia Portuguesa de Celulose. Manteve-se até hoje nas suas sucessoras Portucel e agora The Navigator Company.
Conteúdo elaborado a partir de:
Ramos, F. S. (1979/1980). A exploração de minérios no concelho de Sever do Vouga – uma indústria que foi florescente. “Aveiro e o seu distrito”, 26/28.
Ramos, Fernando Soares (1998) – . Sever do Vouga: Câmara Municipal, pp. 429-444
Para saber mais
- AAVV (2013) – . Sever do Vouga: Câmara Municipal
- Allam, J. L. (1965). A Mineração de Portugal na Antiguidade. Boletim de Minas. Lisboa. 2:3, pp. 137-173.
- Almeida, J. A. F. de (1953). Introdução ao estudo das lucernas romanas em Portugal. O Arqueólogo Português. Lisboa. Série 2, vol. 2, pp. 5-208.
- Martins, C. M. B. (2008). A exploração mineira romana e a metalurgia do ouro em Portugal. Braga: Universidade do Minho. Col. Cadernos de Arqueologia. Monografias, 14.
- Martins, C. M. B. (2011). A mineração do chumbo em época romana. O exemplo das minas de Braçal e Malhada (Aveiro), “O Arqueólogo Português”, série V, vol. 1: 489-504.
- Ramos, F. S. (1979/1980). A exploração de minérios no concelho de Sever do Vouga – uma indústria que foi florescente. “Aveiro e o seu distrito”, 26/28.
- Ramos, Fernando Soares (1998) – . Sever do Vouga: Câmara Municipal, pp. 429-444
- Vitorino, F. (2000). Agricultura e mineração. Uma coexistência difícil. As minas do Vale do Vouga e as comunidades do Vale do Rio Águeda, 1889-1924, “Gestão e Desenvolvimento”, 9: 255-299.