Colaboração
Freguesias
Uma iniciativa
Freguesias
Uma iniciativa
Neolítico
“Este monumento foi intervencionado por Albuquerque e Castro nos finais dos anos 50 do séc. XX. Os resultados destas escavações permitem-nos adiantar que este é um dólmen de câmara provavelmente poligonal e corredor, que já em meados do séc. XX se encontrava muito destruído.
Encontra-se implantado numa pequena área aplanada, sobranceira a uma linha de água subsidiária do rio Alfusqueiro que corre a Sul. A amplitude visual dá-se nesse sentido, pois a norte a serra das Talhadas desenvolve-se em altura. A oeste e apenas a 35m encontra-se o vizinho Dólmen 2 do Chão Redondo.
Atualmente, apenas podemos observar o topo de um dos esteios da câmara sepulcral e seis esteios do corredor, 3 de cada lado, aberto a Sudeste. A mamoa, ainda bem conservada, com cerca de 1m de altura, apresenta 15m de diâmetro do eixo Este-Oeste e 12m no eixo Norte-Sul. O espólio exumado, tal como no dólmen vizinho, o dólmen 2 de Chão Redondo, também é arcaico e escasso, compondo-se por machados, micrólitos, lâminas, seixos rolados e pouca cerâmica, indiciando uma fase antiga do megalitismo regional, que rondará os 6.000 anos.”
“O Dólmen 2 de Chão Redondo é, conjuntamente com o Dólmen da Pedra da Moura 1, em Couto de Esteves, o monumento megalítico mais conhecido do concelho de Sever do Vouga. A sua verdadeira importância advém de este ser um dos dólmens mais profusamente decorado com motivos gravados da Península Ibérica.
De facto, quando Albuquerque e Castro dá a conhecer estas gravuras tanto a nível nacional (Castro, 1960) como internacional (1966), faz deste monumento uma referência constante quando se estuda a arte megalítica. Os levantamentos recentes efetuados por uma equipa da Arqueohoje. Lda (Santos et alii, 2010-2011) vêm corroborar as leituras de A. e Castro.
Os motivos gravados distribuem-se pela câmara funerária e pelo corredor. O esteio de cabeceira apresenta uma série de Vs que podem representar uma entidade tutelar. O esteio da direita regista ziguezagues e círculos e o do corredor um meandro. A. e Castro refere uma laje solta que teria gravado o que interpretou como uma manada de bois de cabeça virada para baixo. Mais do que tentar interpretar os motivos representados, devemos tentar entendê-los como manifestações rituais que se encontram inseridas num discurso em que todo o monumento faz parte. Este mesmo discurso só faz sentido quando olhamos para o monumento como um todo e pensar como ele também interagia com os restantes monumentos da necrópole.
Em termos arquitectónicos, este é um dólmen de câmara poligonal alongada de sete esteios, em granito, com 2,30m de comprimento, 2,00m de largura e 1,90m de altura e corredor diferenciado em planta e alçado. Atualmente apenas se conservam 5 esteios, apresentando-se completos o esteio de cabeceira e os que o ladeiam. O corredor mede 2,20m de comprimento, 0,80m de largura e 1,40m de altura máxima. De referência obrigatória, é o conjunto de estruturas colocadas a descoberto pela equipa da Arqueohoje, Lda (Santos et alii, 2001 e 2010-2011) na área fronteira ao corredor.
Efetivamente, a evolução do estudo dos monumentos megalíticos, tem resultado num valioso investimento nas áreas que se encontram à entrada dos monumentos. No fundo, procura-se saber como era feito o acesso ao interior do sepulcro e como funcionavam esses espaços. Assim, o Dólmen 2 de Chão Redondo faz parte de um dos primeiros monumentos do género a revelar interessantes estruturas nessas mesmas áreas.
Assim, quem visita este dólmen pode reparar que, antes de entrar no interior do monumento através do corredor, passa por um espaço delimitado por um pequeno murete de pedras: o átrio. Era aqui que se efetuariam as cerimónias fúnebres, com toda a comunidade. Era o único espaço público do dólmen. Ao interior só acediam os eleitos, os sacerdotes. A seguir ao átrio e após ultrapassar uma simbólica linha de pedras, o visitante entra num novo espaço ainda aberto, o corredor intratumular. Só depois é que penetra no sepulcro através do corredor. Todos estes passos e espaços são pensados numa lógica que hoje nos ultrapassa, mas que estava decerto relacionada com os complexos rituais da morte do neolítico.
A mamoa com quase 2 m de altura apresenta um diâmetro de 18m. O espólio arqueológico exumado é bastante homogéneo sendo constituído por machados de pedra polida, micrólitos geométricos, lâminas, moventes de moinhos manuais e apenas 1 fragmento de cerâmica. O cariz arcaizante destas peças, com a ausência de pontas de seta e quase inexistência de cerâmica, aponta para que este monumento tenha sido construído e utilizado numa fase antiga do megalitismo, por volta dos finais do último quartel do Vº milénio, inícios do IVº milénio A. C., ou seja há cerca de 6.000 anos.”
— Museu Municipal de Sever do Vouga 2020/04/17 13:05